segunda-feira, 13 de maio de 2013

Quase metade dos professores de SP já sofreu agressão na rede pública

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13 de maio de 2013
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Uma pesquisa com professores de São Paulo aponta: quase a metade já sofreu algum tipo de agressão em escolas públicas. Fantástico mostra imagens e depoimentos exclusivos sobre essa violência nos colégios, que preocupa o Brasil inteiro.

Aluno bate em aluno. Aluno bate em professor. E professor bate em aluno. São flagrantes recentes da violência nas escolas brasileiras. Uma das cenas que mais tiveram repercussão foi a de um estudante de 15 anos agredindo uma professora de inglês dentro da sala de aula.
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O Fantástico conseguiu imagens inéditas, desse caso, gravadas por um aluno. A escola particular fica em Santos, no litoral paulista. Pela primeira vez, a professora revela os motivos do ataque: uma nota baixa porque o estudante não havia feito o dever.
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“Ele já não vinha fazendo as minhas lições desde o ano anterior. Quando aconteceu o episódio dele levantar, pegar o meu diário de classe, apagar as notas, chutar as minhas folhas, eu só levantei porque achei que ele fosse rasgar o diário”, ela diz.
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A professora descreve a agressão: “No momento em que ele passa a perna em mim, eu tento me segurar na blusa dele. Eu agarrei a perna dele com intuito de evitar que ele continuasse me socando”, afirma a educadora.
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O aluno, de 15 anos, foi expulso da escola. Segundo a professora, ele sempre teve um perfil violento e a xingava, com frequência, dentro da sala de aula. “A falta de respeito é muito grande. Já chegou a arremessar carteiras em cima de mim”, lembra. Esta semana, uma pesquisa encomendada pela Apeoesp, o sindicato dos professores do ensino oficial do Estado de São Paulo, ao Instituto Data Popular traçou um quadro da violência nas escolas públicas paulistas.
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De cada 100 professores, 44 dizem já ter sofrido algum tipo de agressão. A verbal é a mais comum, ou seja, quando o professor é ofendido é a mais comum. Depois, vêm assédio moral, bullying, agressão física, discriminação e furto. “Salas superlotadas, escolas mal iluminadas. É um ambiente que serve para tudo, menos para o aprendizado adequado para os alunos”, explica Renato Meireles, diretor do instituto de pesquisas.
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A pesquisa revelou ainda que 29% dos professores já viram estudantes alcoolizados na escola. E 42% presenciaram alunos sob efeito de drogas. E 29% flagraram o tráfico dentro do colégio. A Secretaria de Educação de São Paulo diz que desenvolve iniciativas de combate à violência. “A Secretaria de Educação conta com um oficial da Polícia Militar que assessora diretamente o secretário de Educação nessa articulação entre as nossas escolas e os comandos territoriais da Polícia Militar”, afirma Felipe Angeli, coordenador da Secretaria de Educação de SP.
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Na quinta-feira (9), em um colégio estadual de Aracaju, Sergipe, um aluno de 14 anos foi encontrado, na hora do recreio, com 30 cápsulas de cocaína. Ele disse à policia que vendia drogas na escola havia dois meses. Também na quinta, aconteceu um assassinato em frente a um colégio público, em Vespasiano, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ana Caroline Costa, 16 anos, foi morta com um tiro na cabeça. Outros dois estudantes também ficaram feridos. Segundo a polícia, está havendo uma guerra de gangues e Ana Caroline não tinha nada a ver com a história.
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“A violência é uma epidemia dentro das escolas e os custos disso ficam para toda sociedade brasileira”, destaca Meireles.
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E quando é o próprio professor quem agride? As imagens são de uma escola estadual de Maricá, Região dos Lagos, Rio de Janeiro. O Fantástico localizou o estudante, de 14 anos, que levou socos do professor, em uma escola, no mês passado.
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Ao lado da mãe, ele disse que, no começo da aula, houve uma troca de insultos, mas em tom de brincadeira: “Ele me chamou de gordo. Chamei ele de cabeçudo. Parecia mais uma baderna que uma aula. Todo mundo brincava”, conta. Segundo o estudante, o professor partiu para cima dele no fim da aula: “Começou a me encurralar. Me cercar. Eu falei: ‘Professor, eu estava brincando’. Ele ficou nervoso e me agrediu”, diz a vítima. Em outra escola, esse mesmo aluno já tinha arrumado briga, ofendido um professor e precisou passar por um psicólogo. “Não respeitava ninguém, mas de um tempo para cá, eu comecei a ficar bom”, garante.
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O professor que deu socos no estudante preferiu não se manifestar. Ele será transferido de colégio.
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“O próprio professor é reconhecido como professor extremamente popular, brincalhão, mas, até por isso, talvez, tenha perdido um pouco o respeito por parte dos alunos”, afirma o delegado Henrique Pessoa. E qual seria a saída para acabar com os conflitos entre professores e alunos? A pesquisa realizada em São Paulo apontou que, nas escolas que fazem campanhas frequentes de combate à violência, há menos agressões.
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“A família tem que conhecer o seu filho. Uma vez identificando esses problemas, ela tem que pedir ajuda, caso não consiga resolver internamente”, diz Felippe Angeli.
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“Eu sou uma professora. Eu queria a minha vida de volta. Adoro dar aula”, lamenta uma professora.
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