quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Escolas rejeitam matrículas de estudantes com deficiência





Por Fernanda Viegas.
.
Mesmo obrigadas por lei, instituições de ensino dificultam e até recusam matrículas de crianças e adolescentes com necessidades especiais, como síndrome de down, autismo e cegueira. Há relatos de pais que já passaram, sem sucesso, por 12 escolas em busca de um lugar para o filho. E, quando aceitam o estudante, as instituições pedem aos responsáveis que custeiem a contratação de pessoal especializado.
.
O sindicato das escolas particulares nega que haja recusa de alunos, mas confirma a cobrança de adicionais. O Estado e a Prefeitura de Belo Horizonte garantem que não recusam matrículas. "Elas (escolas) não negam matrícula, mas dificultam o máximo possível, dizendo que não têm condições de receber, que as salas estão cheias ou que o percentual de crianças com deficiência está completo. Há muitas leis, faltam ser colocadas em prática", denunciou a coordenadora do Fórum de Inclusão Escolar de Belo Horizonte, a psicopedagoga e psicanalista infantil Cristina Silveira. Resta aos pais uma peregrinação em busca de escolas. Essa é a realidade atual da empresária Katia Maia, 47, que tem um filho de 7 anos com síndrome de down. "Eu já estive em 12 escolas particulares e ainda não consegui matricular o meu filho para o ano que vai começar."
.
Katia conta que está sendo obrigada a trocar o filho de escola porque a instituição em que ele estudava o teria aprovado para o ensino fundamental, mesmo sem preparo. "Eles não o deixaram ficar no jardim. Mas ele não fala e não lê, como vai poder estar com crianças que já leem e escrevem?". Situação parecida vivenciou a funcionária pública Ruth Mara de Oliveira Gomes, 48, ao tentar matricular o filho de 13 anos, que tem síndrome de Asperger (autismo leve, que não afeta o desenvolvimento intelectual) no sexto ano do ensino fundamental, no ano passado. Segundo Ruth, o filho fez uma prova de seleção e tirou nota suficiente para passar, mas, por causa da síndrome, a instituição informou que não tinha vaga para ele - eles disseram que as duas matrículas por turma reservadas a alunos especiais já estavam preenchidas.
.
A família ameaçou entrar na Justiça, e a escola resolveu aceitar o aluno na condição de os pais assinarem um documento, declarando que arcariam com o custo da contratação de um profissional especializado, caso a escola percebesse essa necessidade. "Assinamos porque sabíamos que nosso menino não ia precisar disso, mas ele sofreu muito bullying", contou.
.
O outro lado. Para o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), é legal os colégios cobrarem adicionais para contratar profissional ou adquirir equipamentos para alunos especiais. "Se for provado que o aluno tem tratamento especial, é justo que a escola cobre mais pior isso", confirmou o advogado constitucionalista Alexander Barroso. As secretarias municipal e estadual de Educação informaram que todas as escolas públicas estão aptas a receber estudantes com necessidades especiais.



.
Convivência é benéfica para todos os lados
.
A convivência entre alunos com e sem deficiências é benéfica para todos, segundo especialistas. Além de ser essencial para os estudantes aprenderem a conviver em sociedade, o contato com o "diferente" é importante para seu desenvolvimento. "Para aqueles que têm necessidades especiais, é preciso tirá-los do confinamento. O convívio com os colegas é um degrau para seu desenvolvimento. Já os outros estudantes precisam aprender a aceitar a todos", explica a vice-diretora do centro pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Selma Moura.
.
Por outro lado, a consultora em educação inclusiva Priscila Lima chama a atenção para a necessidade de capacitação de profissionais. "O Estado e a prefeitura têm oferecido cursos de capacitação, mas não podem ser esporádicos porque uma criança com síndrome de down há dez anos é muito diferente de uma de hoje". (FV)
.


.
Fonte: O Tempo (MG)

Nenhum comentário:

Postar um comentário