terça-feira, 1 de julho de 2014

Plano Nacional de Educação é sancionado sem vetos por Dilma

A presidente Dilma Rousseff sancionou sem vetos o Plano Nacional de Educação, informou nesta quinta-feira (26) a Secretaria de Imprensa da Presidência. A sanção ocorreu nesta quarta e a lei deve ser publicada nesta quinta em edição extra do "Diário Oficial da União".
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Proposto pelo Executivo ao Congresso em 2010, o PNE, como é conhecido, estabelece 20 metas e estratégias para o setor nos próximos dez anos, entre elas, um investimento de 10% do Produto Interno Bruto no setor. O plano foi aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 3 de junho e o prazo para a sanção se encerrou nesta quarta (veja aqui a redação final da lei aprovada).
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Além do investimento de 10% do PIB, o plano prevê a erradicação do analfabetismo e universalização da educação infantil (crianças de 4 e 5 anos), do ensino fundamental (6 a 14 anos) e do ensino médio (15 a 17 anos). Serão muito importantes a valorização dos professores e o aumento dos investimentos em educação"
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Plano 'à altura' - Na tarde desta quinta, em mensagens publicadas no Twitter, Dilma afirmou que o PNE está "à altura" das dificuldades educacionais do país. A presidente ressaltou nos últimos 11 anos o governo federal criou "um caminho de oportunidades" para o país por meio da educação.
"O PNE permite ampliar essas oportunidades, partindo da educação infantil, passando pela educação em tempo integral, o crescimento das matrículas da educação profissional e tecnológica, a ampliação do acesso à educação superior. (...) P/ isso serão muito importantes a valorização dos professores e o aumento dos investimentos em educação", escreveu a presidente na rede social.
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Metas - Dentre as metas do PNE, está também a ampliação da oferta de educação infantil em creches, que deverá atender mínimo de 50% das crianças de até três anos. Ao final dos dez anos de vigência do PNE, os brasileiros deverão ser alfabetizados, no máximo, até os seis anos. O plano determina também que 50% das escolas públicas deverão oferecer educação em tempo integral, a fim de atender pelo menos 25% de todos os alunos da educação básica. A escolaridade média da população de 18 a 29 anos deverá ser elevada e alcançar mínimo de 12 anos de estudo. O número de matrículas na pós-graduação também precisará crescer. O plano prevê ainda formação de 60 mil mestres e 25 mil doutores por ano ao final de sua vigência.
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saiba mais
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Royalties
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Durante evento na Bahia no dia 6, dias após a aprovação no Congresso, Dilma afirmou que os royalties do petróleo do pré-sal irão garantir a execução do Plano Nacional de Educação. A lei aprovada pelo Congresso Nacional prevê a destinação de 75% dos recursos obtidos por meio da extração do petróleo e 50% do excedente em óleo para a educação e 25%, para a saúde.
"Eu acredito que a legislação mais importante aprovada no ano passado foi a lei que assegura que 75% dos royalties do petróleo e 50% do excedente em óleo do pré-sal sejam destinados à educação. O que me dá segurança que o Plano Nacional de Educação vai ser cumprido é o que se tem de recursos, para que se cumpra o plano, para que se cumpram as metas", disse a presidente na Bahia.
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Fonte: Portal G1 - http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/06/plano-nacional-de-educacao-foi-sancionado-sem-vetos-por-dilma.html

Educação: um caso a se pensar, em uma cidade do interior de Minas

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Lúcio Alves de Barros*
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Em recente pesquisa feita com apoio da Fapemig e da Faculdade ASA na cidade de Brumadinho (MG) em uma escola estadual, foram de capital importância alguns achados acerca das experiências no trabalho e nas violências vivenciadas pelos docentes. Mas antes de descrever alguns aspectos é necessário dizer que não é por ser uma cidade de interior de pequeno porte, ou talvez esquecida pelos desavisados e críticos de plantão, que ela não seja um bom objeto passível de pesquisa e contribuição ao campo acadêmico. Pelo contrário.
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Em primeiro lugar, cumpre mencionar a inexistência de uma “violência dura”, de grande clamor público, e de uma “criminalidade violenta” ou casos nos quais a polícia tem que atuar a todo momento. Os professores entrevistados afirmaram a inexistência dessas práticas dentro e fora da escola – que, por sinal, é muito organizada, limpa e cuidada. As violências encontradas são de pequeno porte, como incivilidades, maus-tratos e indisciplina.
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Em segundo lugar, é curioso e digno de admiração o respeito dos professores em relação aos estudantes. Os docentes, com larga experiência e formação, alguns tendo até mestrado, demonstraram uma “força sem igual”. Acreditam categoricamente na educação como prática libertadora e que estão auxiliando e “formando pessoas” para melhores dias. Muitos deles asseveraram inclusive que já conseguiram recuperar as esperanças de muitos adolescentes e jovens que andavam descrentes com a vida. A ação dos professores nesse sentido é de “gestor de emoções”, o que vem auxiliando na formação dos alunos e nas relações cotidianas.
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Em terceiro lugar, é bom deixar claro que lecionar em uma escola pública do interior parece agradável e bom para os docentes pesquisados. As estratégias de defesa dos professores nessas escolas não passam de ações cotidianas construídas na base da solidariedade e na sociabilidade com os responsáveis. Em uma cidade de interior, as pessoas se conhecem, ainda trocam informações e têm acesso umas às outras em vários espaços de relações sociais. Não por acaso professores entram em contato com os pais – alguns antigos amigos de infância – e descrevem a situação e o que anda ocorrendo com o filho/estudante naquele espaço. Mais que isso, professores chegam a fazer valer sua autoridade, “chamando a atenção” e recebendo respeito e admiração de pais e alunos.
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Finalmente, a escola estadual (pública e gratuita) em Brumadinho, a despeito dos problemas encontrados no campo da falta de recursos e de professores devido ao jogo de designações do estado, anda firme e com as próprias pernas. Possui professores engajados e estudantes que possuem excelentes trajetórias no interior da instituição escolar. Muitos – o que não deixa de ser um orgulho para os docentes – passaram para universidades e estão inseridos no mercado de trabalho. É digno de nota o papel da direção da escola, que oferece a discricionariedade, a autoridade, o apoio, a liberdade e a defesa incondicional dos professores em casos de conflitos e negociação. É nesse ambiente que encontramos a escola estadual em pesquisa. É neste ambiente que acreditamos que as escolas do interior, públicas e de qualidade, são possíveis e talvez ofereçam um ambiente (de paz, tranquilidade e segurança) muito mais aconchegante para os alunos estudarem.
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Agradeço à Gabriela Rasuck, que auxiliou na pesquisa. Sem ela, o trabalho por certo não existiria.
Publicado em 01 de julho de 2014.
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Professor na Faculdade de Educação - UEMG / FAE / BH
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Fonte: Revista Educação Pública - http://www.educacaopublica.rj.gov.br/suavoz/0161.html

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Professor brasileiro é um dos que mais trabalha, afirma relatório da OCDE

Os professores brasileiros de escolas de ensino fundamental, gastam, em média, 25 horas por semana só com as aulas. O número é superior à média de aproximadamente 30 países, como a Finlândia, Coreia, Estados Unidos, México e Cingapura. Lá, os professores gastam, em média, 19 horas por semana ensinando em sala de aula, ou seja, um porcentual 24% menor. O posição brasileira é inferior apenas à do Chile, onde os professores gastam quase 27 horas em aulas.
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O docente brasileiro, contudo, usa até 22% mais de tempo que a média dos demais países em outras atividades da profissão, como correção de "tarefas de casa", aconselhamento e orientação de alunos. Todos os dados são da mais recente Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) divulgada nesta quarta-feira (25) na França.
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Junto com o Brasil, não foram apenas países ricos e integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - coordenadora da pesquisa - que participaram do estudo. Outras nações emergentes e também países menos desenvolvidos fizeram parte da pesquisa. Polônia, Bulgária, Croácia, Malásia e Romênia fazem parte do conjunto de nações integrantes da edição 2013 da Talis. Os dados foram obtidos junto a mais de 14 mil professores brasileiros e cerca de 1 mil diretores de 1070 escolas públicas e privadas de todos os estados do País. Os docentes e dirigentes responderam aos questionários da pesquisa, de forma sigilosa, entre os meses de setembro a novembro de 2012. Cada questionário tinha cerca de 40 perguntas.
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Em âmbito nacional, o estudo foi coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Em 2007, o Brasil também participou da primeira rodada da pesquisa, a Talis 2008, que foi publicada no ano seguinte.
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Objetivo: A pesquisa tem como principal objetivo analisar as condições de trabalho que as escolas oferecem para os professores e o ambiente de aprendizagem nas salas de aula. De acordo com o Inep, "a comparação e análise de dados internacionais permite que os países participantes identifiquem desafios e aprendam a partir de políticas públicas adotadas fora de suas fronteiras".
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Diferente do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que prioriza a avaliação dos alunos, do seu contexto e da escola, no Talis, o foco está mais centrado nos docentes. "O programa Talis é um programa de pesquisas que visa preencher lacunas de informação importantes para a comparação internacional dos sistemas de ensino", afirma estudo da Universidade Federal do Paraná liderado pela pesquisadora Rose Meri Trojan.
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"Desperdício"
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A pesquisa também quis saber do professor quanto tempo de aula é voltado, efetivamente, para a aprendizagem. E o número é pouco animador para o Brasil. Mesmo com uma carga de 25 horas de aulas por semana, mais de 30% do tempo desses encontros regulares é "desperdiçado" em tarefas de manutenção da ordem dentro da sala e em questões burocráticas, como o preenchimento de chamadas e outras atividades administrativas. Só o tempo gasto para por "ordem na bagunça" dos estudantes representa 20% do tempo total da aula. Com serviços administrativos, são gastos 12%. De aula mesmo, ou seja, atividades de aprendizagem, o professor dispõe apenas de 67% do tempo. É a pior situação entre todos os países avaliados. Na média dos países pesquisados, quase 80% do tempo é voltado, exclusivamente, para a aprendizagem.
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"Precisamos otimizar mais o tempo em sala de aula. O Brasil ainda tem como foco o ensino, mas é preciso se voltar para a aprendizagem. Não podemos desperdiçar tanto tempo com outras questões", afirma Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, um dos principais fatores de dispersão do aluno é a própria defasagem que ele tem em termos de conhecimento por uma série de fatores, inclusive os socioeconômicos. "Os alunos que chegam no fundamental veem com baixa proficiência ou possuem uma diferença muito grande em relação aos demais estudantes. Isso é um dos fatores que faz com que ele não fique atento às aulas e o professor precise gastar mais tempo organizando a dispersão", fala Alavarse.
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Deslocamento - Além de usar mais horas por semana ensinando, parte dos professores brasileiros ainda sofre com o desgaste em descolamentos. Isso porque, muitos deles trabalham em mais de um estabelecimento.
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"Ainda temos que enfrentar o desafio da reorganização do corpo de professores nas escolas públicas. O ideal era que ele estivesse vinculado a apenas uma escola. No entanto, é comum docentes, especialmente dos anos finais do ensino fundamental, ensinarem em mais de um estabelecimento, já que certas matérias que eles lecionam têm uma carga horária e número de turmas limitado", afirma Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
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No Brasil, cerca de 40% dos mais de 2 milhões de professores da educação básica dão aulas em cinco ou mais turmas. E aproximadamente 20% deles ensinam em pelo menos dois estabelecimentos. Já em São Paulo, 26% dos professores dão aulas em duas escolas. Os dados são do Censo Escolar 2013 divulgado no início deste ano pelo MEC.
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Perfil - Além dos dados sobre condições de trabalho e ambiente de aprendizagem, a pesquisa da OCDE também traçou o perfil do docente brasileiro. Confira os números da pesquisa aqui.
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'Educação não é mercadoria: setor privado precisa de uma regulamentação urgente'
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Depois da participação na aprovação, pelo Congresso, do Plano Nacional de Educação (PNE) - uma das principais bandeiras de reivindicação da União Nacional dos Estudantes (UNE) -, a entidade vai focar sua atuação, a partir de agora, na regulamentação mais efetiva do ensino superior privado do País. Essa supervisão mais eficiente das 2.112 faculdades, centros universitários e universidades particulares (87% do total de instituições de ensino superior do Brasil) será possível com a aprovação do projeto de lei que cria o Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior (Insaes). Isso é o que afirma a presidente da UNE, Virgínia Barros, de 28 anos.
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"Quem se posiciona de forma contrária ao projeto fala que é mais um instituto que vem para inchar o Estado brasileiro e aumentar a burocracia. Eu não concordo com essa avaliação. Acho que o Insaes vem para aumentar a eficiência do próprio Estado no processo de fiscalização", afirma Vic, como é mais conhecida.
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Confira, no vídeo, a posição da UNE sobre a regulamentação do ensino privado, o balanço da gestão no primeiro ano de mandato encerrado agora em junho, além de outros temas envolvendo políticas públicas, movimento estudantil, eleições e Copa. Aqui.
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Superinstituto - O novo 'superinstituto' do Ministério da Educação (MEC) prevê a criação de mais de 500 cargos públicos ao custo que ultrapassa os R$ 40 milhões. O Insaes passaria a assumir algumas atividades da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) do MEC e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ambos responsáveis pela regulação do setor.
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Hoje, tanto o Inep quanto a Seres sofrem com falta de pessoal e infraestrutura, o que compromete a fiscalização da qualidade do ensino ofertado pelas instituições privadas. Contudo, o projeto - que foi apresentado pelo executivo federal em 2012 -, ainda está em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara. O Ministério da Educação (MEC) esperava que ele fosse apreciado ano passado para que passasse a valer a partir deste ano.
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O setor privado, em geral, critica a criação e a formatação do instituto. Atualmente, o total de estudantes matriculados em faculdades e universidades de ensino superior no País ultrapassou a marca de 7 milhões em 2012. Mais de 70% desses alunos estudam em instituições privadas.
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Indicação de leitura - Polícia, Política e Sociedade


O livro "Polícia, Política e Sociedade". São Paulo: Ed. Delicatta, 2014, de Lúcio Alves de Barros, Vanderlan Hudson Rolim e Antônio Hot Pereira de Faria é a reunião de pesquisas efetuadas no sentido de compreender “o que a polícia faz”. Trata-se de uma obra que aponta para os problemas, obstáculos, caminhos, avanços e retrocessos na política de segurança pública que se abriu a partir da década de 1990. É uma obra para aqueles que se interessam pelo assunto ou que desejam entender o papel da polícia em sociedades democráticas.

60% dos professores no Brasil são obrigados a trabalhar em mais de uma escola, diz estudo

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Menos da metade dos professores de ensino fundamental no Brasil pode se dar ao luxo de laborar num único colégio. O dado, revelado pela Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizado (Talis, na sigla em inglês) da OCDE, o clube dos países mais desenvolvidos, joga luz sobre um problema que, de acordo com especialistas, afeta diretamente a qualidade da educação.
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Segundo o levantamento, que a OCDE realizou junto a cem mil professores em 34 países e cujos resultados apresenta hoje em Paris, apenas 40% dos docentes brasileiros que atuam nos primeiros anos do ensino têm dedicação exclusiva, contra 82% na média das nações pesquisadas. De acordo com a gerente da área técnica do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, por trás dessa realidade estão os salários insuficientes e o baixo número de professores em determinadas áreas.
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— Os profissionais de exatas, por exemplo, encontram oportunidades mais atraentes que a sala de aula quando se formam. Isso gera um déficit que acaba sendo tratado com o deslocamento de profissionais — observa. — A consequência é um prejuízo no envolvimento do professor com o projeto pedagógico das escolas.
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A vida em mais de uma escola é o caso de Marcelle Aguiar, professora de inglês de 33 anos. Para alcançar renda mensal de R$ 3.500, ela precisou assumir 19 turmas em quatro escolas. Marcelle trabalha para a rede municipal do Rio, onde atua num colégio na Pavuna e outro em Acari, e também para a rede municipal de Magé, na qual dá aulas em mais dois colégios.
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— Seria infinitamente melhor se pudesse receber um bom salário para atuar em apenas uma escola. Teria mais tempo para planejar atividades e vínculos ainda mais fortes com os alunos — pondera.
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Além da rotina pesada, a professora também já precisou enfrentar escolas inseridas em contextos de violência, como comunidades marcadas pelo tráfico de drogas. Segundo ela, muitas vezes esse peso recai diretamente sobre o professor:
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— Em alguns casos, os alunos liberam toda a sua agressividade na escola. Os colégios cada vez mais têm que estar preparados para agir como agentes transformadores. Mas, para isso, é preciso apoio de psicólogos e assistentes sociais, já que determinados aspectos fogem ao nosso alcance.
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O cenário descrito por Marcelle também aparece na pesquisa da OCDE, que pediu a professores e diretores (15 mil deles apenas no Brasil) que respondessem a questionários com perguntas sobre liderança escolar, ambiente de trabalho, satisfação e eficiência, práticas pedagógicas e expectativas, avaliação, aprendizado e desenvolvimento de oportunidades. Dos 34 países, somente em Brasil, Malásia e México mais de 10% dos diretores relataram que experimentam episódios de vandalismo ou roubo em uma base semanal. Para a organização, “não surpreende que, tanto no Brasil quanto em outras nações, gestores escolares tenham relatado níveis mais elevados de inadimplência em suas escolas, além de níveis mais baixos de satisfação no trabalho.”
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Nosso país também aparece ao lado do México, da Suécia e da Bélgica no quesito respeito ao professor: quase um terço dos professores trabalham em escolas onde houve relatos de intimidação ou abuso verbal por parte dos alunos. O Brasil é um dos únicos também onde mais de 10% dos diretores disseram ter presenciado agressões verbais a seus professores toda semana.
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MULHERES SÃO ESMAGADORA MAIORIA
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O estudo também comprova uma realidade que qualquer um que já entrou numa escola de ensino fundamental percebeu: as mulheres são a esmagadora maioria dos professores. Mais especificamente, 71% deles (na média de todos os países pesquisados, são 68%). Embora 96% dos docentes por aqui tenham diploma de graduação, somente 76% completaram cursos de licenciatura. Esse índice fica abaixo da média mundial, de 90%. Mesmo assim, os profissionais de educação básica daqui acumulam uma experiência profissional de 14 anos, só dois a menos que a média.
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Também na direção das escolas, só 25% são homens, contra 51% na média da OCDE. As gestoras têm formação mais elevada que seus empregados professores: 96% delas completaram graduação com licenciatura, e 88% fizeram algum tipo de treinamento para assumir o posto administrativo. No entanto, se os diretores nos 34 países da pesquisa somam tempo médio de experiência profissional de 30 anos, por aqui o número cai para 21. Outro ponto bastante enfatizado pela TALIS é a questão da avaliação de professores e de como ela impacta o dia a dia na sala de aula. Por aqui, 80% dos docentes disseram ter implementado melhores práticas letivas depois de receber bons retornos de seus superiores, contra só 62% na média da OCDE.
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A atual coordenadora da pré-escola na Escola Americana, Isabela Baltazar também já foi professora da instituição e defende que, em ambas posições, o retorno sobre o trabalho em sala de aula é fundamental para o bom rendimento:
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— Dando este tipo de suporte, temos professores mais confiantes. Isso passa mais segurança ao aluno.
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SOBRE A TALIS
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Esta é a segunda edição da Pesquisa Internacional de Ensino e Aprendizado, sendo a primeira realizada em 2008 com pouco mais de 20 países. Para o Talis 2013, foram ouvidos cerca de 100 mil professores e diretores de escolas em 34 países. No Brasil, cerca de 15 mil docentes e mil gestores de escolas atenderam aos questionários enviados pela OCDE.
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A organização os pediu que respondessem questões que versavam sobre liderança escolar, ambiente de trabalho, satisfação no trabalho e eficiência, práticas pedagógicas e expectativas, avaliação e feedback, aprendizado e desenvolvimento de oportunidades.
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Fonte: O Globo on line e Todos pela Educação

domingo, 11 de maio de 2014

O tempo das utopias mínimas

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Por Leonardo Boff*
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Não é verdade que vivemos tempos pós-utópicos. Aceitar esta afirmação é mostrar uma representação reducionista do ser humano. Ele não é apenas um dado que está ai fechado, vivo e consciente, ao lado de outros seres. Ele é também um ser virtual. Esconde dentro de si virtualidades ilimitadas, que podem irromper e concretizar-se. Ele é um ser de desejo, portador do princípio esperança (Bloch), permanentemente insatisfeito e sempre buscando novas coisas. No fundo, ele é um projeto infinito, à procura de um obscuro objeto que lhe seja adequado.
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É desse transfundo virtual que nascem os sonhos, os pequenos e grandes projetos e as utopias mínimas e máximas. Sem elas o ser humano não veria sentido em sua vida, e tudo seria cinzento. Uma sociedade sem uma utopia deixaria de ser sociedade, não teria um rumo, pois afundaria no pântano dos interesses individuais ou corporativos. O que entrou em crise não são as utopias mas certo tipo de utopia, as utopias maximalistas vindas do passado.
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Os últimos séculos foram dominados por utopias maximalistas. A utopia iluminista que universalizaria o império da razão contra todos os tradicionalismos e autoritarismos. A utopia industrialista de transformar as sociedades com produtos tirados da natureza e da invenções técnicas. A utopia capitalista de levar progresso e riqueza para todo mundo. A utopia socialista de gerar sociedades igualitárias e sem classes. As utopias nacionalistas sob a forma do nazifascismo que, a partir de uma nação poderosa, com “raça pura”, redesenharia a humanidade, impondo-se a todo mundo. Atualmente, a utopia da saúde total, gestando as condições higiênicas e medicinais que visam a imortalidade biológica ou o prolongamento da vida até a idade das "céculas" (cerca de 130 anos). A utopia de um único mundo globalizado sob a égide da economia de mercado e da democracia liberal. A utopia de ambientalistas radicais que sonham com uma Terra virgem e o ser humano totalmente integrado nela e outras.
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Essas são as utopias maximalistas. Propunham o máximo. Muitas delas foram impostas com violência ou geraram violência contra seus opositores. Temos hoje distância temporal suficiente para nos confirmar que estas utopias maximalistas frustraram o ser humano. Entraram em crise e perderam seu fascínio. Dai falarmos de tempos pós-utópicos. Mas o pós se refere a este tipo de utopia maximalista. Elas deixaram um rastro de decepção e de depressão, especialmente, a utopia da revolução absoluta dos anos 60-70 do século passado, como a cultura hippy e seus derivados.
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Mas a utopia permanece porque pertence ao ânimo humano. Hoje, a busca se orienta pelas utopias minimalistas, aquelas que, no dizer de Paulo Freire, realizam o “possível viável” e fazem a sociedade “menos malvada e tornam menos difícil o amor”. Nota-se por todas as partes a urgência latente de utopias do simples melhoramento do mundo. Tudo o que nos entra pelas muitas janelas de informação nos leva a sentir: assim como o mundo está, não pode continuar. Mudar e, se não der, ao menos melhorar.
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Não pode continuar a absurda acumulação de riqueza como jamais houve na história (85 mais ricos possuem rendas correspondentes a 3,57 bilhões de pessoas, como denunciava a ONG Oxfam intermón em janeiro deste ano em Davos). Para esses, o sistema econômico-financeiro não está em crise; ao contrário, oferece chances de acumulação como nunca antes na história devastadora do capitalismo. Há que se pôr um freio à verocidade produtivista que assalta os bens e serviços da natureza em vista da acumulação, produz gases de efeito estufa que alimenta o aquecimento global, que, ao não ser detido, poderá produzir um armagedon ecológico.
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As utopias minimalistas, a bem da verdade, são aquelas que vêm sendo implementadas pelo governo atual do PT e seus aliados com base popular: garantir que o povo coma duas ou três vezes ao dia, pois o primeiro dever de um Estado é garantir a vida dos cidadãos; isso não é assistencialismo mas humanitarismo em grau zero. São os projetos “minha casa-minha vida”, “luz para todos”, o aumento significativo do salário mínimo, o “Prouni”, que permite o acesso aos estudos superiores a estudantes socialmente menos favorecidos, os “pontos de cultura” e outros projetos populares que não cabe aqui elencar.
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A nível das grandes maiorias, são verdadeiras utopias mínimas viáveis: receber um salário que atenda às necessidades da família, ter acesso à saúde, mandar os filhos à escola, conseguir um transporte coletivo que não lhe tire tanto tempo de vida, contar com serviços sanitários básicos, dispor de lugares de lazer e de cultura, e com uma aposentadoria digna para enfrentar os achaques da velhice.
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A consecução destas utopias minimalistas cria a base para utopias mais altas: aspirar a que os povos se abracem na fraternidade, que não se guerreiem, se unam todos para preservar este pequeno e belo planeta Terra, sem o qual nenhuma utopia maximalista ou minimalista pode ser projetada. O primeiro ofício do ser humano é viver livre de necessidades e gozando um pouco do reino da liberdade. E por fim poder dizer “valeu a pena”.
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* Leonardo Boff escreveu 'Virtudes para um outro mundo possivel', 3 vol. (Vozes, 2005).

'Viramos uma família', diz mãe sobre memorial por Realengo

A véspera do Dia das Mães vai ser de homenagem aos filhos para as famílias de 11 estudantes que foram vítimas do massacre na escola Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio, em 7 de abril de 2011. Três anos após a tragédia que pôs fim ao convívio nos corredores e salas do colégio, eles voltarão a ficar juntos: neste sábado, os restos mortais de 11 dos 12 jovens serão depositados lado a lado num memorial no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Os adolescentes foram mortos por Wellington Menezes, ex-aluno da escola, que entrou no local e matou os jovens e feriu mais 12.
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Massacre de Realengo completou três anos no dia 7 de abril
Massacre de Realengo completou três anos no dia 7 de abril.
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"Lembro da alegria da minha filha, que sempre foi uma menina muito carinhosa, alegre. Na minha cabeça, o que ficou dela foi o sorriso", disse Adriana Maria da Silveira, mãe de uma das vítimas, Luiza Paula da Silveira Machado, que tinha 14 anos. O pedido para que os corpos das vítimas fiquem no mesmo local partiu dela, presidente da Associação Anjos do Realengo.
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Das 12 vítimas, o corpo de uma foi cremado e os das demais estavam enterrados entre três cemitérios do Rio. Os familiares vão aproveitar que os restos mortais teriam que ser exumados após o prazo legal de três anos, para já fazer com que eles fiquem juntos. "Não tem razão de elas ficarem separadas. Viramos uma grande família, vivemos sempre juntos. Vamos viver tudo no mesmo dia", disse Adriana. Segundo ela, os corpos que estão nos cemitérios do Murundu, em Realengo, e no de Ricardo Albuquerque, devem ser levados para o Jardim da Saudade escoltados por carros da Guarda Municipal. A banda da corporação também deve tocar na cerimônia, que será celebrada pelo cardeal do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta, e pelo padre Omar Raposo, reitor do Santuário do Cristo Redentor, às 12h30.
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Às vésperas do Dia das Mães, Adriana acredita que ficará com os nervos à flor da pele e sabe que vai reviver toda a dor da perda da filha. "Até acontecer essa tragédia, no Dia das Mães, eu tinha o café da manhã. Agora falta um pedaço de mim como mãe", disse Adriana, que ainda é mãe de Carlos, 20 anos.
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